A supervalorização da flexibilidade no ballet adulto
- Thiana Calmon
- 12 de set. de 2016
- 2 min de leitura
Tem tempo que quero escrever esse post, sempre começo e nunca consigo concluir porque é difícil tentar explicar o que quero dizer com o que considero ser uma supervalorização da flexibilidade no ballet adulto. Nem vou entrar no mérito das aberturas negativas, dos alongamentos que parecem contorcionismo. Vou me limitar ao ballet adulto e falar baseado na minha experiência até agora como aluna.
Toda vez que digo que faço ballet escuto a mesma pergunta: "Você abre espacate (ou espaguete ou qualquer outro nome para se referir ao grand écart)?". Não, eu ainda não consigo mesmo em 5 anos de ballet. E já tive meus períodos de frustração por isso até perceber que meu corpo talvez não tenha estrutura e não me permita a flexibilidade que eu desejo. E por isso eu iria desistir do ballet? Claro que não.
Muita gente associa fazer ballet a um corpo super flexível e cria metas pessoais e parâmetros de sucesso associados a flexibilidade. Mas onde eu quero chegar? Existem pessoas que são naturalmente flexíveis, que conseguem colocar o pé na cabeça sem nunca ter feito ballet ou qualquer atividade que exija essa característica, ora, se flexibilidade é um parâmetro de qualidade dentro do ballet então automaticamente essa pessoa será uma ótima bailarina ou bailarino? Não necessariamente. Cada corpo é um corpo com suas características, facilidades e dificuldades.
Estou dizendo que flexibilidade não é importante? Não, não estou dizendo isso. Um bom alongamento para o ballet é importante sim, mas para um adulto iniciante, na minha opinião, existem coisas muito mais importantes que abrir um grand écart ou colocar o pé na cabeça. Essa expectativa de ter um alongamento muito bom a curto prazo é perigoso, não apenas no sentido emocional que frustra o aluno logo no início, mas também é perigoso fisicamente. Um alongamento a todo custo pode causar lesões e afastar o aluno do ballet por um período ou até mesmo definitivamente.
Para um adulto que começou o ballet é muito mais importante aprender e entender cada passo, cada tendu, cada jetté. Como arrastar o pé no chão corretamente, entender no seu próprio corpo a colocação dos braços. É necessário criar consciência corporal, ter conhecimento sobre seu próprio corpo, seus limites e suas possibilidades. Mais que alongamento é preciso entender o que é en dehors e como fazer um bom plié, como ter um bom alinhamento para não ter ou agravar lesões pré existentes. E isso, acreditem, é muito mais difícil que ter um bom alongamento.
Não quero tirar o mérito de quem tem a melhora do alongamento como meta pessoal, até porque também comemoro internamente cada vez que minha perna sobe um pouco mais. Quero chamar atenção para o fato de que alongamento e flexibilidade não é a única busca que temos dentro do ballet e que ás vezes esquecemos o que realmente importa. Ballet é arte e a arte deve emocionar.
Essa foto é de 3 meses atrás e eu melhorei muito pouco depois disso
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