A bailarina e o whey protein
- Thiana Calmon
- 2 de set. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 4 de nov. de 2019
Parece nome de um conto surreal: uma bailarina e um pote de whey protein na mesma frase, no mesmo universo! Porque quando alguém fala em suplemento, a primeira coisa que vem à cabeça é a imagem de uma pessoa muito musculosa, exatamente o contrário do biotipo dos bailarinos. Ou pensamos nos atletas de alto rendimento, correndo maratonas e ganhando medalhas. Eles estão “autorizados” a usar suplementos por causa da sua modalidade competitiva. Só o que bailarinas e bailarinos muitas vezes não conseguem perceber é que são atletas também! Mas o que diferencia uma bailarina de uma atleta se ambas usam o corpo de forma exaustiva? São horas de ensaio intenso até a apresentação, bem similar ao atleta que treina até o dia da competição. Porém, ao contrário dos atletas, nós da dança temos a falsa impressão que se lançarmos mão de algum suplemento, isso vai influenciar negativamente o shape. Quando no fundo, estamos deixando a saúde esportiva de lado e ficando mais vulneráveis a lesões que podem atrapalhar o desempenho nos palcos.
A finalidade dos suplementos é ajudar na performance atlética, garantir o consumo de um determinado nutriente ou atingir o alvo calórico diário. No caso específico dos bailarinos que não querem mudar seu corpo, os suplementos têm um papel fundamental para evitar lesões musculares ou de ligamentos e também para ajudar na recuperação muscular.

Quem dança, sabe: no calor dos ensaios, quase não nos hidratamos, quase não comemos e muitos profissionais ainda sofrem a pressão de manter o peso e não engordar por nada. Assim, muitos bailarinos vivem em constante déficit calórico. O grande problema do déficit é a questão das lesões. Porque além disso tudo, bailarina que se preze tem que estar pronta para subir na ponta, no palco, plena e próspera! Não há espaço para lesões. Nisso, bailarinos e atletas são 100% semelhantes. Assim sendo, alguns suplementos ajudam ( e muito!) a evitar as indesejadas lesões e aumentam o ritmo da recuperação para quem já está lesionado.
Relembrando a época de biologia da escola, todas as nossas células tem a membrana celular. Músculo é uma célula diferente que contém filamentos contrateis para realizar a contração e gerar o movimento e são envolvidas pela membrana celular, formada basicamente de gordura e proteína. Quando existe lesão muscular, as fibras rompem, causando inflamação e resultando em dor. Aí, entra o ômega-3, uma gordura boa, com ação anti-oxidante e anti-inflamatória e que precisa ser consumida na dieta porque o corpo humano não a produz. Mesmo com uma alimentação regrada, a quantidade consumida pode estar abaixo do necessário, portanto a suplementação de ômega-3 na forma de cápsulas ajuda na prevenção de lesões e auxilia na recuperação do que já está lesionado.
Quem começou há pouco tempo ou está aumentando o ritmo dos ensaios, pode ter queixa de muita dor muscular. Os aminoácidos de cadeia ramificada ( ou BCAA na sigla em inglês) são um suplemento com ação comprovada sobre essa dorzinha chata. Ela até tem nome científico: dor muscular de início tardio, que aparece de 2 a 5 dias após o treino e que afeta mais as mulheres, principalmente quem estava parada e resolveu retomar as atividades.
Mas não só os músculos que precisam de atenção. Cartilagens e tendões são muito exigidos no contexto da dança, devido ao impacto que as cartilagens absorvem nas articulações e o trabalho de estabilização que os tendões realizam. Sobre os tendões especificamente, eles ainda podem estar trabalhando no limite, pois bailarinas precisam ser flexíveis e alongadas e, algumas vezes, os exercícios de alongamento passam da conta e podem causar micro lesões. O acúmulo delas pode chegar ao ponto de ruptura do tendão, devido a esse traumatismo crônico e constante. Assim, o uso de colágeno e gelatina é bem estudado na melhora da saúde das cartilagens e tendões junto à vitamina C, que aumenta a absorção e formação do colágeno quando é ingerida junto a ele.
Por último, mas não menos importante, está a proteína. A associação de suplemento também com a imagem de um pote de whey protein é quase tão instantânea quanto seu preparo. O whey protein é só um dos tipos de suplemento proteico. Além dele, temos a proteína da carne, caseína, albumina e as proteínas vegetais (soja, ervilha e arroz). Todas são comercializadas e agradam aos carnívoros e veganos. A grande sacada do uso desses suplementos é conseguir atingir a quantidade necessária de proteína que a dieta nem sempre alcança. Quanto mais intenso ou de maior duração o treino/ensaio, maior a necessidade proteica do organismo. Se essa quantidade não for respeitada, o próprio organismo se encarrega de encontrar fontes de proteína para se manter. E adivinha onde está nosso maior estoque de proteína? Na musculatura! Assim, garantir o consumo adequado de proteína é primordial para que o músculo não seja consumido ao invés da proteína que deveríamos ter na alimentação.
A alimentação equilibrada ainda é o melhor recurso para manter a saúde esportiva também no mundo da dança, mas além das pressões próprias da modalidade, não podemos esquecer que muitos se dividem em ensaios, trabalho, casa, família... E que a vida corrida nem sempre nos permite levar nossa marmita preparada com tudo o que precisamos. Essa é a hora do suplemento, cujo objetivo é complementar, nunca substituir.

Joan Emmanuelle Amato
Médica do esporte com título de especialista em Nutrologia (@anutrologa)
Amante da dança, em um relacionamento sério com o stiletto (@dancewithjoan)
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