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Sobre amar nosso corpo


A Vanessa é uma mulher linda, aquele tipo de pessoa que você gosta de graça. Ela postou esse texto em seu perfil no facebook e permitiu gentilmente que eu publicasse aqui. Obrigada, Vanessa!

A vida como ela é: SEEEENNNTAAA QUE LÁ VEM TEXTÃO. Tem pele sobrando vazando pelo collant, tem um busanfa meio desencaixado lá em Marrakech, perna enorme apertada pela meia calça que parece que tem um pernil de porco lá dentro... A primeira coisa que vi nessa foto foi isso, afinal somos nossos maiores algozes, sempre vendo muitos defeitos em tudo que diz respeito a nós e ainda mais se você for mulher, bombardeada com toda essa indústria da beleza/magreza/low carb/corpos perfeitos/mundo fitness força, foco e fé frango com batata doce. Acho que 99% das mulheres são insatisfeitas com seus corpos e sempre por onde passamos tem uma revista, propaganda dizendo como emagrecer 6kgs em 10 dias, e como fazer aquela dieta milagrosa do shake para secar rapidinho.

A gente passa uma vida se odiando e se sentindo mal em nossos próprios corpos, e a história de aceitar seu próprio corpo e se amar como somos é lindo na teoria, MAS É MUITO DIFICIL NA PRÁTICA; achamos beleza em todos os outros corpos menos no nosso. O nosso sempre tem que melhorar, sempre tem aquela dobra, aquela banha, aquela celulite que tem que sumir. Quem me conhece e sabe da minha história sabe que eu vivo de dieta, já quase morri por isso e ainda assim tenho uma dificuldade absurda de me olhar e achar algo bom esteticamente.

No ballet então? DIFÍCIL. Fiz quando era criança, não era ruim, mas era gorda... Um corpo teoricamente impróprio pra dança, afinal, quem já viu uma bailarina gorda no palco? Depois de anos larguei o Ballet, coisa que eu amava muito fazer. Não só o ballet eu larguei, já larguei várias coisas por achar que eu, gorda, não poderia fazer, afinal os gordos são impróprios para habitar esse mundo, todo mundo tem algo a dizer sobre a pessoa gorda, que não tem vergonha na cara, que devia fechar a boca, “que fulano que eu conheço perdeu 40kgs fazendo dieta e exercício” “ser gordo é coisa de gente preguiçosa” “se você não comesse tanta sobremesa as vezes poderia emagrecer um pouco”, os fiscais estão sempre ali.

Se eu ficasse aqui digitando todos os absurdos que já ouvi não haveriam caracteres suficientes e você escuta tanta coisa que acha realmente que é impróprio, feio, sujo e outras coisas mais, acaba acreditando naquilo tudo. Mas aonde eu quero chegar com tudo isso é que depois de vários processos que passei, quilos a menos (o que não necessariamente teria que ocorrer, lembrando que esse foi o MEU processo), cicatrizes a mais, peles, muitas peles sobrando, quis voltar a dançar para fazer as pazes comigo e com meu corpo, um processo difícil, se olhar no espelho todo dia, de corpo inteiro (que até então nunca tinha tido um nem em casa), entrar em contato com suas inseguranças, pequenas crises de ansiedade durante as aulas (hahaha) e etc... E nesse processo de voltar a dançar encontrei pessoas INCRÍVEIS que ajudam esse processo ser cada dia mais prazeroso. E o que eu quero chegar mesmo com isso tudo é dizer que eu consigo ver hoje beleza nessa foto uma pessoa que ama dança e que está fazendo uma atividade prazerosa e evoluindo dentro dos meus limites.

Cada um tem sua estratégia e seus processos para fazer as pazes consigo mesmo e seu corpo é seu templo, é aonde você vive, suas marcas contam sua história, e é muito angustiante viver num lugar que você odeia, então vamos voltar lá no início e realmente fazer um esforço para se amar. Para nós mulheres amor próprio é revolução. Eu nunca escrevi nada do tipo porque a gente as vezes tem medo de se expor, de contar nossas histórias, ficamos sempre nos escondendo de uma forma ou de outra. Porém, nós mulheres precisamos nos apoiar e compartilhar nossas histórias para dar as vezes aquela força que uma outra precisa para começar a fazer algo para fazer as pazes com seu corpo. A gente tem que se apoiar e se ajudar para não cair nas armadilhas desse mundo machista que quer que nos odiemos e que sempre compitamos. Vamos empoderar umas às outras e sair dessa armadilha.

Bom, é isso... Já escrevi MUUIIITOO, até demais hahahaha. Vamos nos amar e ocupar TODOS os espaços, TODOS os corpos podem desempenhar QUALQUER atividade, cada um dentro do seu próprio limite, mas não há nada que você não possa fazer, ou pelo menos tentar fazer. Se joga pra fazer aquilo que te dá prazer, e eu continuo aqui com meus passos de formiga porém com muita vontade.

E o ultimo recado, para os fiscais dos corpos alheios: gente vocês não tem nada mais pra fazer não? A vida de vocês tá tão boa assim? E se tiver, vai bater um bolo gente! Já comeram um bolo bem bom de chocolate? Pode até ser sem glúten e sem lactose. Ao invés de querer cagar regra no corpo do outro vai passar um café e assar um bolinho que vai dar mto melhor.

Beijos de Luz!

Vanessa Valente

Foto Juliana Meziat

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